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terça-feira, 2 de julho de 2013

O Estado existe para os supérfluos

Em algum lugar há ainda povos e rebanhos, mas não entre nós, meus irmãos: aqui há Estados. Estado? O que é isso? Pois bem! Agora abri-me vossos ouvidos, pois agora vos direi minha palavra da morte dos povos. Estado chama-se o mais frio de todos os monstros frios. Friamente também ele mente; e esta mentira rasteja de sua boca: "Eu, o Estado, sou o povo." É mentira! Criadores foram os que criaram os povos e suspenderam uma crença e um amor sobre ele: assim serviam à vida. Aniquiladores são aqueles que armam ciladas para muitos e as chamam de Estado: suspendem uma espada e cem apetites sobre eles. Onde ainda há povo, ali o povo não entende o Estado e o odeia como olhar mau e pecado contra costumes e direitos. Este signo eu vos dou: cada povo fala sua língua de bem e mal: esta o vizinho não entende. Sua própria língua ele inventou para si em costumes e direitos. Mas o Estado mente em todas as línguas de bem e mal; e, fale ele o que for, ele mente - e o que quer que ele tenha, ele roubou. Falso é tudo nele; com dentes roubados ele morde, esse mordaz. Falsas são até mesmo suas vísceras. Confusão de línguas de bem e mal: este signo vos dou como signo do Estado. Em verdade, é a vontade de morte que esse signo indica! Em verdade, ele acena aos pregadores da morte! São demasiados muitos os que nascem: para os supérfluos foi criado o Estado!

NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho. In: NIETZSCHE. Obras incompletas. São Paulo: Abril Cultural, 1999, pp. 216-7.

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